domingo, 17 de fevereiro de 2008

Primavera

Abrindo de par em par
as portas do palácio:
A PRIMAVERA

Apesar da névoa
mesmo assim é belo
o Monte Fuji

Não esqueças nunca
o gosto solitário
do orvalho


Brisa ligeira
A sombra da glicínia
estremece

Uma rã mergulha
no velho tanque...
O ruído da água

De que árvore em flor
não sei —
Mas que perfume

A cada sopro do vento
muda de folha
a borboleta no salgueiro

A uma papoila
deixa as asas a borboleta
como recordação

Flores de cerejeira no céu escuro
e entre elas a melancolia
quase a florir

Extingue-se o dia
mas não o canto
da cotovia

Lua cheia:
para repousar os olhos
uma nuvem de tempos a tempos

Flores queimadas pela geada
Os grãos caídos
semeiam a tristeza

Depressa se vai a primavera
Choram os pássaros e há lágrimas
nos olhos dos peixes


de Matsuo Bashô

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