sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Sun shiny day II


Sun shiny day

I can see clearly now, the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It's gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun shiny day

I think I can make it now, the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I've been prayin' for
It's gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun shiny day

Look all around, there's nothin' but blue skies
Look straight ahead, nothin' but blue skies

I can see clearly now, the rain is gone
I can see all obstacles in my way
Gone are the dark clouds that had me blind
It's gonna be a bright (bright), bright (bright)
Sun shiny day

de Johnny Nash

domingo, 12 de outubro de 2008

Brilho


Dez réis de esperança

Se não fosse esta certeza
que nem sei de onde me vem,
não comia, nem bebia,
nem falava com ninguém.
Acocorava-me a um canto,
no mais escuro que houvesse,
punha os joelhos á boca
e viesse o que viesse.
Não fossem os olhos grandes
do ingénuo adolescente,
a chuva das penas brancas
a cair impertinente,
aquele incógnito rosto,
pintado em tons de aguarela,
que sonha no frio encosto
da vidraça da janela,
não fosse a imensa piedade
dos homens que não cresceram,
que ouviram, viram, ouviram,
viram, e não perceberam,
essas máscaras selectas,
antologia do espanto,
flores sem caule, flutuando
no pranto do desencanto,
se não fosse a fome e a sede
dessa humanidade exangue,
roía as unhas e os dedos
até os fazer em sangue.

de António Gedeão

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Rua


Opiário VII

Se ao menos eu por fora fosse tão
Interessante como sou por dentro!
Vou no Maelstrom, cada vez mais pró centro.
Não fazer nada é a minha perdição.

Um inútil. Mas é tão justo sê-lo!
Pudesse a gente desprezar os outros
E, ainda que co'os cotovelos rotos,
Ser herói, doido, amaldiçoado ou belo!

Tenho vontade de levar as mãos
À boca e morder nelas fundo e a mal.
Era uma ocupação original
E distraía os outros, os tais sãos.

O absurdo, como uma flor da tal Índia
Que não vim encontrar na Índia, nasce
No meu cérebro farto de cansar-se.
A minha vida mude-a Deus ou finde-a...

Deixe-me estar aqui, nesta cadeira,
Até virem meter-me no caixão.
Nasci pra mandarim de condição,
Mas falta-me o sossego, o chá e a esteira.

Ah que bom que era ir daqui de caída
Pra cova por um alçapão de estouro!
A vida sabe-me a tabaco louro.
Nunca fiz mais do que fumar a vida.

E afinal o que quero é fé, é calma,
E não ter estas sensações confusas.
Deus que acabe com isto! Abra as eclusas -
E basta de comédias na minh'alma!

de Álvaro de Campos (hetenónimo de Fernando Pessoa)

Novo e Antigo


Opiário VI

Ora! Eu cansava-me o mesmo modo.
Qu'ria outro ópio mais forte pra ir de ali
Para sonhos que dessem cabo de mim
E pregassem comigo nalgum lodo.

Febre! Se isto que tenho não é febre,
Não sei como é que se tem febre e sente.
O fato essencial é que estou doente.
Está corrida, amigos, esta lebre.

Veio a noite. Tocou já a primeira
Corneta, pra vestir para o jantar.
Vida social por cima! Isso! E marchar
Até que a gente saia pla coleira!

Porque isto acaba mal e há-de haver
(Olá!) sangue e um revólver lá pró fim
Deste desassossego que há em mim
E não há forma de se resolver.

E quem me olhar, há-de-me achar banal,
A mim e à minha vida... Ora! um rapaz...
O meu próprio monóculo me faz
Pertencer a um tipo universal.

Ah quanta alma viverá, que ande metida
Assim como eu na Linha, e como eu mística!
Quantos sob a casaca característica
Não terão como eu o horror à vida?

de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Festa


Opiário V

Escrevo estas linhas. Parece impossível
Que mesmo ao ter talento eu mal o sinta!
O facto é que esta vida é uma quinta
Onde se aborrece uma alma sensível.

Os ingleses são feitos pra existir.
Não há gente como esta pra estar feita
Com a Tranquilidade. A gente deita
Um vintém e sai um deles a sorrir.

Pertenço a um género de portugueses
Que depois de estar a Índia descoberta
Ficaram sem trabalho. A morte é certa.
Tenho pensado nisto muitas vezes.

Leve o diabo a vida e a gente tê-la!
Nem leio o livro à minha cabeceira.
Enoja-me o Oriente. É uma esteira
Que a gente enrola e deixa de ser bela.

Caio no ópio por força. Lá querer
Que eu leve a limpo uma vida destas
Não se pode exigir. Almas honestas
Com horas pra dormir e pra comer,

Que um raio as porta! E isto afina! é inveja.
Porque estes nervos são a minha morte.
Não haver um navio que me transporte
Para onde eu nada queira que o não veja!


de Álvaro Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

Bastião dos Pescadores


Opiário IV

Volto à Europa descontente, e em sortes
De vir a ser um poeta sonambólico.
Eu sou monárquico mas não católico
E gostava de ser as coisas fortes.

Gostava de ter crenças e dinheiro,
Ser vária gente insípida que vi.
Hoje, afinal, não sou senão, aqui,
Num navio qualquer um passageiro.

Não tenho personalidade alguma.
É mais notado que eu esse criado
De bordo que tem um belo modo alçado
De laird escocês há dias em jejum.
Não posso estar em parte alguma. A minha
Pátria é onde não estou. Sou doente e fraco.
O comissário de bordo é velhaco.
Viu-me co'a sueca... e o resto ele adivinha.

Um dia faço escândalo cá a bordo,
Só para dar que falar de mim aos mais.
Não posso com a vida, e acho fatais
As iras com que às vezes me debordo.

Levo o dia a fumar, a beber coisas,
Drogas americanas que entontecem,
E eu já tão bêbado sem nada! Dessem
Melhor cérebro aos meus nervos como rosas.

de Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

Ser pensante


Opiário II

Eu acho que não vale a pena ter
Ido ao Oriente e visto a Índia e a China.
A terra é semelhante e pequenina
E há só uma maneira de viver.

Por isso eu tomo ópio. É um remédio.
Sou um convalescente do Momento.
Moro no rés-do-chão do pensamento
E ver passar a Vida faz-me tédio.

Fumo. Canso. Ah, uma terra aonde, enfim,
Muito a leste não fosse o oeste já!
Pra que fui visitar a Índia que há
Se não há Índia senão a alma em mim?

Sou desgraçado por meu morgadio.
Os ciganos roubaram minha Sorte.
Talvez nem mesmo encontre ao pé da morte
Um lugar que me abrigue do meu frio.

Eu fingi que estudei engenharia.
Vivi na Escócia. Visitei a Irlanda.
Meu coração é uma avozinha que anda
Pedindo esmola às portas da Alegria.

Não chegues a Port-Said, navio de ferro!
Volta à direita, nem eu sei para onde.
Passo os dias no smoking-room com o conde –
Um escroc francês, conde de fim de enterro.

de Álvaro Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

Brinquedo


Opiário II

Ao toque adormecido da morfina
Perco-me em transparências latejantes
E numa noite cheia de brilhantes
Ergue-se a lua como a minha Sina.

Eu, que fui sempre um mau estudante, agora
Não faço mais que ver o navio ir
Pelo canal de Suez a conduzir
A minha vida, cânfora na aurora.

Perdi os dias que já aproveitara.
Trabalhei para ter só o cansaço
Que é hoje em mim uma espécie de braço
Que ao meu pescoço me sufoca e ampara.


E fui criança como toda a gente.
Nasci numa província portuguesa
E tenho conhecido gente inglesa
Que diz que eu sei inglês perfeitamente.

Gostava de ter poemas e novelas
Publicados por Plon e no Mercure,
Mas é impossível que esta vida dure.
Se nesta viagem nem houve procelas!

A vida a bordo é uma coisa triste,
Embora a gente se divirta às vezes.
Falo com alemães, suecos e ingleses
E a minha mágoa de viver persiste.

de Álvaro de Campo (heterónimo de Fernando Pessoa)

Vazio


Opiário I

É antes do ópio que a minh'alma é doente.
Sentir a vida convalesce e estiola
E eu vou buscar ao ópio que consola
Um Oriente ao oriente do Oriente.

Esta vida de bordo há-de matar-me.
São dias só de febre na cabeça
E, por mais que procure até que adoeça,
Já não encontro a mola pra adaptar-me.

Em paradoxo e incompetência astral
Eu vivo a vincos de ouro a minha vida,
Onda onde o pundonor é uma descida
E os próprios gozos gânglios do meu mal.

É por um mecanismo de desastres,
Uma engrenagem com volantes falsos,
Que passo entre visões de cadafalsos
Num jardim onde há flores no ar, sem hastes.

Vou cambaleando através do lavor
Duma vida-interior de renda e laca.
Tenho a impressão de ter em casa a faca
Com que foi degolado o Precursor.

Ando expiando um crime numa mata,
Que um avô meu cometeu por requinte.
Tenho os nervos na forca, vinte a vinte,
E caí no ópio como numa vala.

de Álvaro Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Os estarolas todos


Amor Eterno

Vaga minh´alma ilúcida pela noite escura e sombria
Onde tu estás, amor que me alucina??
Meu corpo deseja o teu,

Não posso ver o brilho dos teus olhos....
injusta distância que me fere...
Ah! Meu amor...
Quão amarga são as noites que passo à vida sem ti...

Desfaz esse amargor e vem logo me amar...
Despe meu corpo
e passeia sobre ele com tuas mãos,
com tua boca leva-me à loucura e à sede de amar....

Transforma o meu gemido sofrido que outrora
ecoou no silêncio de noites solitária
sem gemidos ofegantes de prazer
do ardente amor que mútua sentimos.

Desejo teu amor com o máximo de minha vontade
e quero-te para todo o sempre...
E por todo o sempre eu hei de te amar....

de Fernando Pessoa

domingo, 21 de setembro de 2008

Bolach


Não te quero

Não te quero senão porque te quero,

e de querer-te a não te querer chego,

e de esperar-te quando não te espero,

passa o meu coração do frio ao fogo.

Quero-te só porque a ti te quero,

Odeio-te sem fim e odiando te rogo,

e a medida do meu amor viajante,

é não te ver e amar-te,como um cego.



Tal vez consumirá a luz de Janeiro,

seu raio cruel meu coração inteiro,

roubando-me a chave do sossego,

nesta história só eu me morro,

e morrerei de amor porque te quero,

Porque te quero amor,a sangue e fogo.



de Pablo Neruda

As Manas


Dois Amantes

Dois amantes felizes não têm fim nem morte,
nascem e morrem tanta vez enquanto vivem,
são eternos como é a natureza.

de Pablo Neruda

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

Belvedere - Viena


Poema

Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco
conheço tão bem o teu corpo
sonhei tanto a tua figura
que é de olhos fechados que eu ando
a limitar a tua altura
e bebo a água e sorvo o ar
que te atravessou a cintura
tanto tão perto tão real
que o meu corpo se transfigura
e toca o seu próprio elemento
num corpo que já não é seu
num rio que desapareceu
onde um braço teu me procura
Em todas as ruas te encontro
em todas as ruas te perco

de Mário Cesáriny

Budapeste


Amor

Quando me tratas mau e, desprezado,
Sinto que o meu valor vês com desdém,
Lutando contra mim, fico a teu lado
E, inda perjuro, provo que és um bem.
Conhecendo melhor meus próprios erros,
A te apoiar te ponho a par da história
De ocultas faltas, onde estou enfermo;
Então, ao me perder, tens toda a glória.
Mas lucro também tiro desse ofício:
Curvando sobre ti amor tamanho,
Mal que me faço me traz benefício,
Pois o que ganhas duas vezes ganho.
Assim é o meu amor e a ti o reporto:
Por ti todas as culpas eu suporto

de William Shakspeare

A Torre ... mais uma para ver, o original de preferência ...


O amor é uma companhia

O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos,
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.

Mesmo a ausência dela é uma coisa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.
Se a não vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.

Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha para mim como um girassol com a cara dela no meio.

de Alberto Caeiro (Heterónimo de Fernando Pessoa)

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Como é que será que funciona o ar condicionado???


Julgar pelas aparências

A beleza é uma forma de Génio... diria mesmo que é mais sublime do que o Génio por não precisar de qualquer explicação. É um dos grandes factos do mundo, como a luz do sol ou a Primavera, ou o reflexo nas escuras águas dessa concha de prata a que chamamos lua. É inquestionável. Tem um direito de soberania divino. Eleva os seus possuidores à categoria de príncipes. Está a sorrir ? Ah, quando a tiver perdido com certeza que não há-de sorrir... às vezes as pessoas dizem que a Beleza é apenas superficial, e pode bem ser. Mas pelo menos não é tão superficial como o Pensamento. Para mim, a Beleza é a maravilha das maravilhas. Só as pessoas frívolas é que não julgam pelas aparências. O verdadeiro mistério do mundo é o visível e não o invisível...

de Oscar Wilde, in "Retrato de Dorian Gray"

terça-feira, 16 de setembro de 2008

Principezinho


Temple of Love

With the fire from the fireworks up above me
With a gun for a lover and a shot for the pain at hand
You run for cover in the temple of love
You run for another but still the same
For the wind will blow my name across this land

In the temple of love you hide together
Believing pain and fear outside
But someone near you rides the weather
And the tears he cried will rain on walls
As wide as lovers eyes

In the temple of love: shine like thunder
In the temple of love: cry like rain
In the temple of love: hear my calling
In the temple of love: hear my name

And the devil in black dress watches over
My guardian angel walks away
Life is short and love is always over in the morning
Black wind come carry me far away

With the sunlight died and night above me
With a gun for a lover and a shot for the pain inside
You run for cover in the temple of love
You run for another its all the same
For the wind will blow and throw your walls aside

With the fire from the fireworks up above
With a gun for a lover and a shot for the pain
You run for cover in the temple of love
I shine like thunder cry like rain
And the temple grows old and strong
But the wind blows longer cold and long
And the temple of love will fall before
This black wind calls my name to you no more

In the black sky thunder sweeping
Underground and over water
Sounds of crying weeping will not save
Your faith for bricks and dreams for mortar
All your prayers must seem as nothing
Ninety-six below the wave
When stone is dust and only air remains

In the temple of love: shine like thunder
In the temple of love: cry like rain
In the temple of love: hear the calling
And the temple of love is falling
Down

In the temple of love: shine like thunder
In the temple of love: cry like rain
In the temple of love: hear my calling
In the temple of love: hear my name

In the black sky thunder sweeping
Underground and over water
Sounds of crying weeping will not save
Your faith for bricks and dreams for mortar
All your prayers must seem as nothing
Ninety-six below the wave
When stone is dust and only air remains
The only haven you can trust

And the devil in black dress watches over
My guardian angel walks away
Life is short and love is always over in the morning
Black wind come carry me far away

With the fire from the fireworks up above
With a gun for a lover and a shot for the pain you

You run for cover in the temple of love
I shine like thunder cry like rain
And the temple grows old and strong
But the wind blows longer cold and long
And the temple of love will fall before
This black wind calls my name to you no more

In the temple of love you hide together
Believing pain and fear outside
But someone near you rides the weather
And the tears he cried will rain on walls
As wide as lovers eyes

In the temple of love: shine like thunder
In the temple of love: cry like rain
In the temple of love: hear my calling
And the temple of love is falling
Down


de Sisters of Mercy

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Comer na Idade Média


Defeitos

Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes,
mas não esqueço que a minha vida é a maior empresa do mundo.
E posso evitar que ela vá à falência.
Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver, apesar de todos os
desafios, incompreensões e períodos de crise.
Ser feliz é deixar se ser vítima dos problemas e se tornar um autor da própria história.
É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de econtrar um oásis
no recôndito da sua alma.
É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida.
Ser feliz é não ter medo dos próprios sentimentos.
É saber falar de si mesmo. É ter coragem para ouvir um "não".
É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.
Pedras no caminho?
Guardo todas, um dia vou contruir um castelo...


de Fernando Pessoa

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Aconchego


O medo de nós próprios

Acredito que se um homem vivesse a sua vida plenamente, desse forma a cada sentimento, expessão a cada pensamento, realidade a cada sonho, acredito que o mundo beneficiaria de um novo impulso de energia tão intenso que esqueceríamos todas as doenças da época medieval e regressaríamos ao ideal helénico, possivelmente até a algo mais depurado e mais rico do que o ideal helénico. Mas o mais corajoso homem entre nós tem medo de si próprio. A mutilação do selvagem sobrevive tragicamente na autonegação que nos corrompe a vida. Somos castigados pelas nossas renúncias. Cada impulso que tentamos estrangular germina no cérebro e envenena-nos. O corpo peca uma vez, e acaba com o pecado, porque a acção é um modo de expurgação. Nada mais permanece do que a lembrança de um prazer, ou o luxo de um remorso. A única maneira de nos livrarmos de uma tentação é cedermos-lhe. Se lhe resistirmos, a nossa alma adoece com o anseio das coisas que se proibiu, com o desejo daquilo que as suas monstruosas leis tornaram monstruoso e ilegal. Já se disse que os grandes acontecimentos do mundo ocorrem no cérebro. É também no cérebro, e apenas neste, que ocorrem os grandes pecados do mundo.
de Oscar Wilde, in 'O Retrato de Dorian Gray'

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

Perspectivas


Nas entressombras de arvoredo

NAS ENTRESSOMBRAS de arvoredo
Onde mosqueia a incerta luz
E a noite ocupa a medo
O incerto espaço em que transluz...

de Fernando Pessoa

Beginning


The end

What's here? a cup, closed in my true love's hand?
Poison, I see, hath been his timeless end:
O churl! drunk all, and left no friendly drop
To help me after? I will kiss thy lips;
Haply some poison yet doth hang on them,
To make die with a restorative.

de Shakespeare

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Num dia de chuva, o Sol


Nebula

Do you enjoy your sight inside?

Disconnect and let me drift
until my upside down is right side in
society must let the artist go
to wander off into the nebula

Wander off into your nebula
see your nectarine of multiplicity
cum like orgasmatron on overdrive
wander in off to your nebula
your tangerine of electricity is ripe
and on a vine, so pick your prize

In little black book do I confide!

Upon return, I conjure what was seen
I let it pulse and boil within my limbs
I lay my pencil to the porous page
and let my lunatic indulge itself

Wander off into your nebula
see your nectarine of multiplicity
cum like orgasmatron on overdrive
wander in off to your nebula
your tangerine of electricity is ripe
and on a vine, so pick your prize
prize, prize, prize

Disconnect and let me drift
until my upside down is right side in
society must let the artist go
to wander off into the nebula

Wander off into your nebula
see your nectarine of multiplicity
cum like orgasmatron on overdrive
wander in off to your nebula
your tangerine of electricity is ripe
and on a vine, so pick your prize

De Brandon Boyd

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Fogo de Artifício


A Camões

A Camões, comparando com os dele os seus próprios infortúnios
O poeta asseteado por amor
Invocação à Noite
A lamentável catástrofe de D. Inês de Castro
Retrato próprio
Em louvor do grande Camões
O autor aos seus versos
Visão Realizada
Proposição das rimas do poeta
Já Bocage não sou!... À cova escura
O Ciúme
Já o Inverno, expremendo as cãs nevosas
Quantas vezes, Amor, me tens ferido?
Desejo Amante
Esperança Amorosa
Sonho
Ó tu, consolador dos malfadados
O Suspiro


de Bocage

Verdes são os campos


Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.
Gados que pasceis

Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

de Luís de Camões

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Curva do Danúbio


Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta

Às vezes, em dias de luz perfeita e exacta,
Em que as coisas têm toda a realidade que podem ter,
Pergunto a mim próprio devagar
Porque sequer atribuo euBeleza às coisas.

Uma flor acaso tem beleza?
Tem beleza acaso um fruto?
Não: têm cor e forma
E existência apenas.
A beleza é o nome de qualquer coisa que não existe
Que eu dou às coisas em troca do agrado que me dão.
Não significa nada.
Então porque digo eu das coisas: são belas?

Sim, mesmo a mim, que vivo só de viver,
Invisíveis, vêm ter comigo as mentiras dos homens
Perante as coisas,
Perante as coisas que simplesmente existem.

Que difícil ser próprio e não ser senão o visível!

de Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa)

Viajar


Não sei quantas almas tenho

Não sei quantas almas tenho.
Cada momento mudei.
Continuamente me estranho.
Nunca me vi nem achei.
De tanto ser, só tenho alma.
Quem tem alma não tem calma.
Quem vê é só o que vê,
Quem sente não é quem é,

Atento ao que sou e vejo,
Torno-me eles e não eu.
Cada meu sonho ou desejo
É do que nasce e não meu.
Sou minha própria paisagem,
Assisto à minha passagem,
Diverso, móbil e só,
Não sei sentir-me onde estou.

Por isso, alheio, vou lendo
Como páginas, meu ser.
O que segue não prevendo,
O que passou a esquecer.
Noto à margem do que li
O que julguei que senti.
Releio e digo: <>
Deus sabe, porque o escreveu.

de Fernando Pessoa

Beleza


Cansou-se

Cansou-se a flor já de dar cheiro.
Estava farta:
por que diabo a pusemos na nossa mesa?
E tentou lançar sombra
maior do que no jardim,
e cansou-se quando para lá não olhamos.Mas eu dei-me conta.


de József Attila

Nanar


I am the escaped one

I am the escaped one
I am the escaped one,
After I was born
They locked me up inside me
But I left.
My soul seeks me,
Through hills and valley,
I hope my soul
Never finds me.

de Fernando Pessoa

Prazer


Um renque de árvores lá longe

Um renque de árvores lá longe...

Um renque de árvores lá longe, lá para a encosta.
Mas o que é um renque de árvores? Há árvores apenas.
Renque e o plural árvores não são coisas, são nomes.

Tristes das almas humanas, que põem tudo em ordem,
Que traçam linhas de coisa a coisa,
Que põem letreiros com nomes nas árvores absolutamente reais,
E desenham paralelos de latitude e longitude
Sobre a própria terra inocente e mais verde e florida do que isso!

de Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa)

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Casas


Bocas roxas

Bocas roxas de vinho,
Testas brancas sob rosas,
Nus, brancos antebraços
Deixados sobre a mesa;

Tal seja, Lídia, o quadro
Em que fiquemos, mudos,
Eternamente inscritos
Na consciência dos deuses.

Antes isto que a vida
Como os homens a vivem
Cheia da negra poeira
Que erguem das estradas.

Só os deuses socorrem
Com seu exemplo aqueles
Que nada mais pretendem
Que ir no rio das coisas.

de Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)

Brincadeiras à noite


Passa uma borboleta

Passa uma borboleta por diante de mim
E pela primeira vez no Universo eu reparo
Que as borboletas não têm cor nem movimento,
Assim como as flores não têm perfume nem cor.
A cor é que tem cor nas asas da borboleta,
No movimento da borboleta o movimento é que se move,
O perfume é que tem perfume no perfume da flor.
A borboleta é apenas borboleta
E a flor é apenas flor.

De Alberto Caeiro (heterónimo Fernando Pessoa)

Caminhar no escuro


Auto-Retrato de O'Neil

O'Neill (Alexandre), moreno português, /cabelo asa de corvo; da angústia da cara, / nariguete que sobrepunha de través/ a ferida desdenhosa e não cicatrizada. / Se a visagem de tal sujeito é o que vês / ( omita-se o olho triste e a testa iluminada ) / o retrato moral também tem os seus quês / ( aqui, uma pequena frase censurada...) /No amor? No amor crê (ou não fosse ele O'Neill!) / e tem a veleidade de o saber fazer / (pois amor não há feito) das maneiras mil / que são a semovente estátua do prazer. / Mas sofre de ternura, bebe de mais e ri-se / do que neste soneto sobre si mesmo disse...

Mesa


Canto-te II

Canto-te
para que tu definitivamente
existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uivade
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempre
e os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço

Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar

(...)

de Ana Hatherly

Fonte


Uma verdade!

"Men become old, but they never become good."

in Lady Windermere's Fan de Oscar Wilde

terça-feira, 1 de julho de 2008

Engraçadinho ....


Sei um ninho

Sei um ninho.
E o ninho tem um ovo.
E o ovo, redondinho,
Tem lá dentro um passarinho
Novo.

Mas escusam de me atentar:
Nem o tiro, nem o ensino.
Quero ser um bom menino
E guardar
Este segredo comigo.
E ter depois um amigo
Que faça o pinoA voar...

de Miguel Torga

domingo, 15 de junho de 2008

Mais fotos não!!


Anoiteceu mais cedo

Anoiteceu mais cedo. À porta fechada,
preparo um roteiro de viagens.
Sublinho rotas e derrotas.
Tatuo nos pulsos uma rosa dos ventos
e gravo na mão esquerda um astrolábio.
Tenho uma ilha adiada no peito.
É a época das marés vivas. Pressinto-o,
pela intensa ondulação do meu cabelo,
antecipando a tormenta.


de Graça Pires

Dentro do autocarro


Perturbada pelo desacato das emoções

Perturbada pelo desacato das emoções,
utilizo um roteiro de artifícios para simular,
em cada madrugada, a cumplicidade dos deuses.
Mas, como silenciar as mãos que dobam
a brisa da manhã, no vórtice do tempo?
Não iludo a distância. É devagar que olho
para trás, à procura de mim. Cada vinco do rosto,
é um caminho onde a angústia se deteve.


de Graça Pires

Livros


O teu rosto, longamente procurado

O teu rosto, longamente procurado,
não tem búzios, nem conchas, nem corais.
Na praia, até então intacta,
sinto a luz de teus passos.
ou será uma onda fugitiva,
a tornar transparente a tua ausência?


de Graça Pires

Casa dos pais


Hoje, confesso, acordei com vontade de ser feliz

Hoje, confesso, acordei com vontade de ser feliz.
Amarrei, até, no pulso o amor-perfeito
que foi secando no meu peito e retomei a velha máxima:
não deixar que qualquer angústia atinja o coração.
Um castelo de areia, é tudo quanto quero
para acostar o meu barco de papel.



Aproxima os olhos da vertigem e estremece
com a luz espessa, que brilha nos teus ombros.
No céu do teu país, as estrelas podem ser barcos,
se quiseres sulcar os mares do coração em desordem.


de Graça Pires

Vício no escuro


Nómada da noite, entro no coração do texto

Nómada da noite, entro no coração do texto,
para dizer o exílio nos olhos de Ulisses.
Tenho a idade dos barcos que sonhei.
Um traço de infortúnio atravessa meus lábios,
espessando o sangue que, nas veias, vai cerzindo
a distância que me separa do absurdo.
Há quem enlouqueça a olhar o mar,
com barcos sangrando sobre as costas.

de Graça Pires

terça-feira, 10 de junho de 2008

Sol e Terra


residência na terra II - Barcarola

Si solamente me tocaras el corazón,
si solamente pusieras tu boca en mi corazón,
tu fina boca, tus dientes,
si pusieras tu lengua como una flecha roja
allí donde mi corazón polvoriento golpea,
si soplaras en mi corazón, cerca del mar, llorando,
sonaría con un ruido oscuro, con sonido de ruedas de tren con sueño,
como aguas vacilantes,
como el otoño en hojas,
como sangre,
con un ruido de llamas húmedas quemando el cielo,
sonando como sueños o ramas o lluvias,
o bocinas de puerto triste,
si tú soplaras en mi corazón cerca del mar,
como un fantasma blanco,
al borde de la espuma,
en mitad del viento,
como un fantasma desencadenado, a la orilla del mar, llorando.

Como ausencia extendida, como campana súbita,
el mar reparte el sonido del corazón,
lloviendo, atardeciendo, en una costa sola:
la noche cae sin duda,
y su lúgubre azul de estandarte en naufragio
se puebla de planetas de plata enronquecida.


de Pablo Neruda

Sombras


residência da terra II - Sólo la muerte

Hay cementerios solos,
tumbas llenas de huesos sin sonido,
el corazón pasando un túnel
oscuro, oscuro, oscuro,
como un naufragio hacia adentro nos morimos,
como ahogarnos en el corazón,
como irnos cayendo desde la piel al alma.

Hay cadáveres,
hay pies de pegajosa losa fría,
hay la muerte en los huesos,
como un sonido puro,
como un ladrido sin perro,
saliendo de ciertas campanas, de ciertas tumbas,
creciendo en la humedad como el llanto o la lluvia.

Yo veo, solo, a veces,
ataúdes a vela
zarpar con difuntos pálidos, con mujeres de trenzas muertas,
con panaderos blancos como ángeles,
con niñas pensativas casadas con notarios,
ataúdes subiendo el río vertical de los muertos,
el río morado,
hacia arriba, con las velas hinchadas por el sonido de la muerte,
hinchadas por el sonido silencioso de la muerte.

A lo sonoro llega la muerte
como un zapato sin pie, como un traje sin hombre,
llega a golpear con un anillo sin piedra y sin dedo,
llega a gritar sin boca, sin lengua, sin garganta.
Sin embargo sus pasos suenan
y su vestido suena, callado, como un árbol.
Yo no sé, yo conozco poco, yo apenas veo,
pero creo que su canto tiene color de violetas húmedas,
de violetas acostumbradas a la tierra
porque la cara de la muerte es verde,
y la mirada de la muerte es verde,
con la aguda humedad de una hoja de violeta
y su grave color de invierno exasperado.

Pero la muerte va también por el mundo vestida de escoba,
lame el suelo buscando difuntos,
la muerte está en la escoba,
es la lengua de la muerte buscando muertos,
es la aguja de la muerte buscando hilo.
La muerte está en los catres:
en los colchones lentos, en las frazadas negras
vive tendida, y de repente sopla:

sopla un sonido oscuro que hincha sábanas,
y hay camas navegando a un puerto
en donde está esperando, vestida de almirante.

de Pablo Neruda

Terra


residência na terra I - Significa sombras

Qué esperanza considerar, qué presagio puro,
qué definitivo beso enterrar en el corazón,
someter en los orígenes del desamparo y la
inteligencia,
suave y seguro sobre las aguas eternamente turbadas?
Qué vitales, rápidas alas de un nuevo ángel de sueños
instalar en mis hombros dormidos para seguridad

perpetua,
de tal manera que el camino entre las estrellas de la
muerte
sea un violento vuelo comenzado desde hace muchos
días y meses y siglos?
Tal vez la debilidad natural de los seres recelosos y
ansiosos
busca de súbito permanencia en el tiempo y límites en
la tierra,
tal vez las fatigas y las edades acumuladas
implacablemente
se extienden como la ola lunar de un océano recién
creado
sobre litorales y tierras angustiosamente desiertas.
Ay, que lo que soy siga existiendo y cesando de existir,
y que mi obediencia se ordene con tales condiciones de
hierro
que el temblor de las muertes y de los nacimientos no
conmueva
el profundo sitio que quiero reservar para mí
eternamente.
Sea, pues, lo que soy, en alguna parte y en todo
tiempo,
establecido y asegurado y ardiente testigo,
cuidadosamente destruyéndose y preservándos
incesantemente,
evidentemente empeñado en su deber original.


de Pablo Neruda

Eu


residência na terra I - Sonata y destrucciones

Después de mucho, después de vagas leguas,
confuso de dominios, incierto de territorios,
acompañado de pobres esperanzas
y compañías infieles y desconfiados sueños,
amo lo tenaz que aún sobrevive en mis ojos,
oigo en mi corazón mis pasos de jinete,
muerdo el fuego dormido y la sal arruinada,
y de noche, de atmósfera oscura y luto prófugo,
aquel que vela a la orilla de los campamentos,
el viajero armado de estériles resistencias,
detenido entre sombras que crecen y alas que
tiemblan,
me siento ser, y mi brazo de piedra me defiende.
Hay entre ciencias de llanto un altar confuso,
y en mi sesión de atardeceres sin perfume,
en mis abandonados dormitorios donde habita la luna,
y arañas de mi propiedad, y destrucciones que me son
queridas,
adoro mi propio ser perdido, mi substancia imperfecta,
mi golpe de plata y mi pérdida eterna.
Ardió la uva húmeda, y su agua funeral
aún vacila, aún reside,
y el patrimonio estéril, y el domicilio traidor.
Quién hizo ceremonia de cenizas?
Quién amó lo perdido, quién protegió lo último?
El hueso del padre, la madera del buque muerto,
y su propio final, su misma huida,
su fuerza triste, su dios miserable?
Acecho, pues, lo inanimado y lo doliente,
y el testimonio extraño que sostengo,
con eficiencia cruel y escrito en cenizas,
es la forma de olvido que prefiero,
el nombre que doy a la tierra, el valor de mis sueños,
la cantidad interminable que divido
con mis ojos de invierno, durante cada día de este
mundo.


de Pablo Neruda

Terra


residência na terra I - Arte poética

Entre sombra y espacio, entre guarniciones y doncellas,
dotado de corazón singular y sueños funestos,
precipitadamente pálido, marchito en la frente
y con luto de viudo furioso por cada día de vida,
ay, para cada agua invisible que bebo soñolientamente
y de todo sonido que acojo temblando,
tengo la misma sed ausente y la misma fiebre fría
un oído que nace, una angustia indirecta,
como si llegaran ladrones o fantasmas,
y en una cáscara de extensión fija y profunda,
como un camarero humillado, como una campana un poco ronca,
como un espejo viejo, como un olor de casa sola
en la que los huéspedes entran de noche perdidamente ebrios,
y hay un olor de ropa tirada al suelo, y una ausencia de flores
-posiblemente de otro modo aún menos melancólico-,
pero, la verdad, de pronto, el viento que azota mi pecho,
las noches de substancia infinita caídas en mi dormitorio,
el ruido de un día que arde con sacrificio
me piden lo profético que hay en mí, con melancolía
y un golpe de objetos que llaman sin ser respondidos
hay, y un movimiento sin tregua, y un nombre confuso

de Pablo Neruda

terça-feira, 27 de maio de 2008

Frio


Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

de António Gedeão