terça-feira, 27 de maio de 2008
Amostra sem valor
Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
de António Gedeão
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no, e, contudo,
nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
de António Gedeão
Amigo
Mal nos conhecemos
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
de Alexandre O'Neill
Inauguramos a palavra amigo!
Amigo é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece.
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!
Amigo (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
Amigo é o contrário de inimigo!
Amigo é o erro corrigido,
Não o erro perseguido, explorado.
É a verdade partilhada, praticada.
Amigo é a solidão derrotada!
Amigo é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
Amigo vai ser, é já uma grande festa!
de Alexandre O'Neill
domingo, 25 de maio de 2008
Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento
Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.
de Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa)
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade.
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada,
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos,
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.
de Alberto Caeiro (heterónimo de Fernando Pessoa)
O Binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo
O Binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso.
óóóó---óóóóóó óóó---óóóóóóó óóóóóóóó
(O vento lá fora.)
Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)
O que há é pouca gente para dar por isso.
óóóó---óóóóóó óóó---óóóóóóó óóóóóóóó
(O vento lá fora.)
Álvaro de Campos (heterónimo de Fernando Pessoa)
Segue o teu Destino
Segue o teu destino,
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
de Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)
Rega as tuas plantas,
Ama as tuas rosas.
O resto é a sombra
De árvores alheias.
A realidade
Sempre é mais ou menos
Do que nós queremos.
Só nós somos sempre
Iguais a nós-próprios.
Suave é viver só.
Grande e nobre é sempre
Viver simplesmente.
Deixa a dor nas aras
Como ex-voto aos deuses.
Vê de longe a vida.
Nunca a interrogues.
Ela nada pode
Dizer-te.
A resposta
Está além dos deuses.
Mas serenamente
Imita o Olimpo
No teu coração.
Os deuses são deuses
Porque não se pensam.
de Ricardo Reis (heterónimo de Fernando Pessoa)
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Piece of my Heart
Oh, come on, come on, come on, come on!
Didn't I make you feel like you were the only man " yeah!
An' didn't I give you nearly everything that a woman possibly can?
Honey, you know I did!
And each time I tell myself that I, well I think I've had enough,
But I'm gonna show you, baby, that a woman can be tough.
I want you to come on, come on, come on, come on and take it,
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby!
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart now, darling, yeah, yeah, yeah.
Oh, oh, have a!
Have another little piece of my heart now, baby,
You know you got it if it makes you feel good,
Oh, yes indeed.
You're out on the streets looking good,
And baby deep down in your heart
I guess you know that it ain't right,
Never, never, never, never, never, never hear me when I cry at night,
Babe, and I cry all the time!
But each time I tell myself that I, well I can't stand the pain,
But when you hold me in your arms, I'll sing it once again.
I'll say come on, come on, come on, come on and take it!
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby.
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart now, darling, yeah,
Oh, oh, have a!
Have another little piece of my heart now, baby,
You know you got it, child, if it makes you feel good.
I need you to come on, come on, come on, come on and take it,
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby!
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart, now darling, yeah, c'mon now.
Oh, oh, have a
Have another little piece of my heart now, baby.You know you got it whoahhhhh!!
Take it!
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby,
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart, now darling,
yeah, yeah, yeah,yeah,
Oh, oh, have a
Have another little piece of my heart now, baby, hey
de Janis Joplin
Didn't I make you feel like you were the only man " yeah!
An' didn't I give you nearly everything that a woman possibly can?
Honey, you know I did!
And each time I tell myself that I, well I think I've had enough,
But I'm gonna show you, baby, that a woman can be tough.
I want you to come on, come on, come on, come on and take it,
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby!
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart now, darling, yeah, yeah, yeah.
Oh, oh, have a!
Have another little piece of my heart now, baby,
You know you got it if it makes you feel good,
Oh, yes indeed.
You're out on the streets looking good,
And baby deep down in your heart
I guess you know that it ain't right,
Never, never, never, never, never, never hear me when I cry at night,
Babe, and I cry all the time!
But each time I tell myself that I, well I can't stand the pain,
But when you hold me in your arms, I'll sing it once again.
I'll say come on, come on, come on, come on and take it!
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby.
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart now, darling, yeah,
Oh, oh, have a!
Have another little piece of my heart now, baby,
You know you got it, child, if it makes you feel good.
I need you to come on, come on, come on, come on and take it,
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby!
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart, now darling, yeah, c'mon now.
Oh, oh, have a
Have another little piece of my heart now, baby.You know you got it whoahhhhh!!
Take it!
Take it!
Take another little piece of my heart now, baby,
Oh, oh, break it!
Break another little bit of my heart, now darling,
yeah, yeah, yeah,yeah,
Oh, oh, have a
Have another little piece of my heart now, baby, hey
de Janis Joplin
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Ode à noite inteira
Gosto do momento, exacto ou nem por isso,
em que se torna possível colar cartazes
nas paredes ao lado dos meus ombros (espero
o autocarro, vejo devagar, sorrio). Mas
gosto, sobretudo, dos cães quase sem dono
que roçam as esquinas, pisando restos de garrafas
- ou das pessoas que desconheço
e das bebidas todas que ignoro
(porque me matam menos e se chamam
- como eu - insónia, pesadelo, golpe baixo).
Existem, claro, raparigas louras um tanto
heteredoxas que não te apetece beijar
(a forca do bâton, perfeita - o cigarro aceso
pedindo outro lume). Essas mesmas que hão-de
um dia procriar com zelo, evitando rugas,
tumores e o mundo como representação misógina.
Mais lírica, sem dúvida, é a lavagem das ruas,
com a cerveja a premiar a farda
demasiado verde e os bigodes de serviço.
Outros, alguns, tornam concreto o torpor
de um charro e pedem-te em crioulo básico
um cigarro português que tu vais dar,
sem esforço nem palavras. Entre shots, piercings,
t-shirts de Guevara e gel, podes não acreditar
por algumas horas no axioma frágil do teu corpo.
Esfumas-te, como eles, no espelho de um bar
qualquer, país de enganos e baratas. E
quase gostas disso, quase: a música de punhais,
servil, um certo e procurado desencontro.
Um táxi te ensinará depois o caminho de casa
- ou o seu contrário, pois só ali (anónimo
e desfocado) eras finalmente tu, ou podias ser.
O resto, a vida, fica para outra vez.
de Manuel de Freitas
em que se torna possível colar cartazes
nas paredes ao lado dos meus ombros (espero
o autocarro, vejo devagar, sorrio). Mas
gosto, sobretudo, dos cães quase sem dono
que roçam as esquinas, pisando restos de garrafas
- ou das pessoas que desconheço
e das bebidas todas que ignoro
(porque me matam menos e se chamam
- como eu - insónia, pesadelo, golpe baixo).
Existem, claro, raparigas louras um tanto
heteredoxas que não te apetece beijar
(a forca do bâton, perfeita - o cigarro aceso
pedindo outro lume). Essas mesmas que hão-de
um dia procriar com zelo, evitando rugas,
tumores e o mundo como representação misógina.
Mais lírica, sem dúvida, é a lavagem das ruas,
com a cerveja a premiar a farda
demasiado verde e os bigodes de serviço.
Outros, alguns, tornam concreto o torpor
de um charro e pedem-te em crioulo básico
um cigarro português que tu vais dar,
sem esforço nem palavras. Entre shots, piercings,
t-shirts de Guevara e gel, podes não acreditar
por algumas horas no axioma frágil do teu corpo.
Esfumas-te, como eles, no espelho de um bar
qualquer, país de enganos e baratas. E
quase gostas disso, quase: a música de punhais,
servil, um certo e procurado desencontro.
Um táxi te ensinará depois o caminho de casa
- ou o seu contrário, pois só ali (anónimo
e desfocado) eras finalmente tu, ou podias ser.
O resto, a vida, fica para outra vez.
de Manuel de Freitas
terça-feira, 20 de maio de 2008
As pedras do céu: I
De endurecer la tierra
se encargaron las piedras:
pronto
tuvieron alas:
las piedras
que volaron:
las que sobrevivieron
subieron
el relámpago,
dieron un grito en la noche,
un signo de agua,
una espada violeta,
un meteoro.
El cielo
suculento
no sólo tuvo nubes,
no sólo espacio con olor a oxigeno,
sino una piedra terrestre
aquí y allá, brillando,
convertida en paloma,
convertida en campana,
en magnitud, en viento
penetrante:
en fosfórica flecha, en sal del cielo.
de Pablo Neruda
se encargaron las piedras:
pronto
tuvieron alas:
las piedras
que volaron:
las que sobrevivieron
subieron
el relámpago,
dieron un grito en la noche,
un signo de agua,
una espada violeta,
un meteoro.
El cielo
suculento
no sólo tuvo nubes,
no sólo espacio con olor a oxigeno,
sino una piedra terrestre
aquí y allá, brillando,
convertida en paloma,
convertida en campana,
en magnitud, en viento
penetrante:
en fosfórica flecha, en sal del cielo.
de Pablo Neruda
Outonado
Completo estou eu de natureza,
em plena tarde de áurea madurez,
alto vento no verde trespassando.
Rico fruto recôndito, contenho
o vasto elementar em mim (a terra,
o fogo, a água, o ar) o infinito.
Jorro luz: douro o lugar escuro;
ressumo olor: a sombra cheira a deus;
emano som: a amplidão é funda música;
filtro sabor: a mole bebe a minha alma,
deleito o tacto de toda a solidão.
Sou um tesouro supremo, desprendido,
com densa redondez de pura íris,
do íntimo da acção. E sou-o todo.
O todo que é o cúmulo do nada,
o todo que se basta e é servido
pelo que todavia é ambição.
de Juan Ramón Jimenez
em plena tarde de áurea madurez,
alto vento no verde trespassando.
Rico fruto recôndito, contenho
o vasto elementar em mim (a terra,
o fogo, a água, o ar) o infinito.
Jorro luz: douro o lugar escuro;
ressumo olor: a sombra cheira a deus;
emano som: a amplidão é funda música;
filtro sabor: a mole bebe a minha alma,
deleito o tacto de toda a solidão.
Sou um tesouro supremo, desprendido,
com densa redondez de pura íris,
do íntimo da acção. E sou-o todo.
O todo que é o cúmulo do nada,
o todo que se basta e é servido
pelo que todavia é ambição.
de Juan Ramón Jimenez
sábado, 17 de maio de 2008
Um Poema
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
de Miguel Torga
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
de Miguel Torga
Veneno
(Imitação de Demódoco)
Um dia uma víbora mordeu num pé
A pérfida Cloé.
Perguntarão: Que sucedeu
À pérfida Cloé? Morreu?
Isso morreu ela...
Mal sentiu a mordidela.
Não teve febre, nem ardor, nem nada.
- A bicha é que morreu envenenada!
de Augusto Gil
Um dia uma víbora mordeu num pé
A pérfida Cloé.
Perguntarão: Que sucedeu
À pérfida Cloé? Morreu?
Isso morreu ela...
Mal sentiu a mordidela.
Não teve febre, nem ardor, nem nada.
- A bicha é que morreu envenenada!
de Augusto Gil
quinta-feira, 15 de maio de 2008
IV - (Nós Somos Loucos, não Somos?!)
Nós somos loucos, não somos?
Desta louca poesia,
Desta riqueza dos pobres
Que se chama fantasia!
Ergamos pois nossa tenda
E nosso lar de pobreza
No mais ermo desses montes,
No fundo da natureza.
Se o frio apertar connosco,
Pois não temos mais calores,
Aqueceremos os membros
Na fogueira dos amores!
Se for grande a nossa sede,
Tão longe da fonte fria,
Contentar-nos-emos, filha,
Com as águas da poesia!
Assim à nossa pobreza
Daremos a Imensidade...
Que com isto se contente
Nossa pouca seriedade.
E, pois somos loucos, vamos
Atrás dos loucos mistérios...
Deixemos ricas cidades
Ao sério dos homens sérios
de Antero de Quental
Desta louca poesia,
Desta riqueza dos pobres
Que se chama fantasia!
Ergamos pois nossa tenda
E nosso lar de pobreza
No mais ermo desses montes,
No fundo da natureza.
Se o frio apertar connosco,
Pois não temos mais calores,
Aqueceremos os membros
Na fogueira dos amores!
Se for grande a nossa sede,
Tão longe da fonte fria,
Contentar-nos-emos, filha,
Com as águas da poesia!
Assim à nossa pobreza
Daremos a Imensidade...
Que com isto se contente
Nossa pouca seriedade.
E, pois somos loucos, vamos
Atrás dos loucos mistérios...
Deixemos ricas cidades
Ao sério dos homens sérios
de Antero de Quental
Canto Moço
Somos filhos da madrugada
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.
de Zeca Afonso
Pelas praias do mar nos vamos
À procura de quem nos traga
Verde oliva de flor no ramo
Navegamos de vaga em vaga
Não soubemos de dor nem mágoa
Pelas praias do mar nos vamos
À procura da manhã clara
Lá do cimo duma montanha
Acendemos uma fogueira
Para não se apagar a chama
Que dá vida na noite inteira
Mensageira pomba chamada
Companheira da madrugada
Quando a noite vier que venha
Lá do cimo duma montanha
Onde o vento cortou amarras
Largaremos pela noite fora
Onde há sempre uma boa estrela
Noite e dia ao romper da aurora
Vira a proa minha galera
Que a vitória já não espera
Fresca brisa, moira encantada
Vira a proa da minha barca.
de Zeca Afonso
quarta-feira, 7 de maio de 2008
Tao
Quando todo o mundo reconhece a beleza então a fealdade por contraste é criada.
Quando a bondade é reconhecida como bom, então a maldade encontra existência....
Portanto o sábio não age e ensina através de não falar.
O mais alto mérito é como água.
A água é benéfica a todas as coisas mas não contesta.
Ela fica em lugares que outros desprezam.
Portanto é como o Tao.
Onde o Tao está, o equilibrio está também.
Quando o Tao se perde,surge a diferença entre as coisas.
Tao
Quando a bondade é reconhecida como bom, então a maldade encontra existência....
Portanto o sábio não age e ensina através de não falar.
O mais alto mérito é como água.
A água é benéfica a todas as coisas mas não contesta.
Ela fica em lugares que outros desprezam.
Portanto é como o Tao.
Onde o Tao está, o equilibrio está também.
Quando o Tao se perde,surge a diferença entre as coisas.
Tao
terça-feira, 6 de maio de 2008
Imagens Acidentais
Desperta a noite;
o orvalho enche a manhã.
Um cheiro a saudade.
Hera pelo muro
rastejando palmo a palmo —
o verde e o viço.
Ao abrir do sol,
se espreguiça o amarelo
pelas maravilhas.
A água dormente:
no lago chapinha a lua,
embalando peixes.
Do reino do sol,
a grande flor amarela,
trouxe a escravidão.
Vem a solidão
comigo pelo caminho.
Já seremos dois.
Esta mesma nuvem,
que voa branca no céu
poisa negra em terra.
Luz pela janela
onde a noite se consome
a brilhar o tempo.
O outono vem
nas aves que, ao partirem,
trouxeram o frio.
Um ninho vazio
de cegonhas que chocaram
sua própria ausência.
Não se vê o rio
que só pelos sonhos corre
debaixo do leito.
As sombras se alongam
pelo caminho da tarde:
vou à minha frente.
Olham as estrelas
plo rosto negro da noite.
Nunca estamos sós.
A manhã que acorda
espreguiça a luz recente
na terra que dorme.
O gato e o sol
sentados no peitoril —
ronronam a par.
Na noite profunda
bate o silêncio estrelado.
Quantas badaladas?
O poente e a papoila
pintaram-se de vermelho:
o sangue e o riso.
As sombras da tarde
já desenham sobre o chão
a outra cidade.
Na noite do campo,
os pirilampos acendem
os negros caminhos.
Chove sem parar.
O inverno trouxe o frio
ao calor da casa.
O verão lateja
nas casas brancas ao sol:
coração de agosto.
Na manhã tranquila,
a vela branca no mar
pontilha o azul.
No fim do verão,
luz e folhas amarelas
a cair do sol.
Imersa no verde,
o desejo me faz folha,
ao sabor a brisa.
de Luísa Freire
o orvalho enche a manhã.
Um cheiro a saudade.
Hera pelo muro
rastejando palmo a palmo —
o verde e o viço.
Ao abrir do sol,
se espreguiça o amarelo
pelas maravilhas.
A água dormente:
no lago chapinha a lua,
embalando peixes.
Do reino do sol,
a grande flor amarela,
trouxe a escravidão.
Vem a solidão
comigo pelo caminho.
Já seremos dois.
Esta mesma nuvem,
que voa branca no céu
poisa negra em terra.
Luz pela janela
onde a noite se consome
a brilhar o tempo.
O outono vem
nas aves que, ao partirem,
trouxeram o frio.
Um ninho vazio
de cegonhas que chocaram
sua própria ausência.
Não se vê o rio
que só pelos sonhos corre
debaixo do leito.
As sombras se alongam
pelo caminho da tarde:
vou à minha frente.
Olham as estrelas
plo rosto negro da noite.
Nunca estamos sós.
A manhã que acorda
espreguiça a luz recente
na terra que dorme.
O gato e o sol
sentados no peitoril —
ronronam a par.
Na noite profunda
bate o silêncio estrelado.
Quantas badaladas?
O poente e a papoila
pintaram-se de vermelho:
o sangue e o riso.
As sombras da tarde
já desenham sobre o chão
a outra cidade.
Na noite do campo,
os pirilampos acendem
os negros caminhos.
Chove sem parar.
O inverno trouxe o frio
ao calor da casa.
O verão lateja
nas casas brancas ao sol:
coração de agosto.
Na manhã tranquila,
a vela branca no mar
pontilha o azul.
No fim do verão,
luz e folhas amarelas
a cair do sol.
Imersa no verde,
o desejo me faz folha,
ao sabor a brisa.
de Luísa Freire
sexta-feira, 2 de maio de 2008
As Facas
Quatro letras nos matam quatro facas
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.
Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas
E em cada assalto sou assassinado.
Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.
de Manuel Alegre
que no corpo me gravam o teu nome.
Quatro facas amor com que me matas
sem que eu mate esta sede e esta fome.
Este amor é de guerra. (De arma branca).
Amando ataco amando contra atacas
este amor é de sangue que não estanca.
Quatro letras nos matam quatro facas.
Armado estou de amor. E desarmado.
Morro assaltando morro se me assaltas
E em cada assalto sou assassinado.
Quatro letras amor com que me matas.
E as facas ferem mais quando me faltas.
Quatro letras nos matam quatro facas.
de Manuel Alegre
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