Cinzas, vergões, renúncias, cicatrizes,
Lanceram-nos a esperança, mas dão outra.
Essa em que a dor nos faz criar raízes,
Árvore e fruto duma seiva nova.
Dos abismos da ira levantamos
As vozes, os protestos e as trombetas.
Só nos ouvimos quando nos calamos
E em vez de arautos nos tornamos poetas.
Cantores das coisas que nos doem, magos
Da nossa angústia, frémito das águas
Onde nos debruçamos, onde nós,
Narcisos do que é grande e impossível,
Nos transformamos por amor da voz
Enquanto a imagem nos parece inútil.
de José Carlos Ary dos Santos
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