quarta-feira, 26 de dezembro de 2007

La Tortura II


La Tortura

Alejandro Sanz:
Ay payita mía
Guárdate la poesía
Guárdate la alegría pa'ti
Shakira:
No pido que todos los días sean de sol
No pido que todos los viernes sean de fiesta
Tampoco te pido que vuelvas rogando perdón
Si lloras con dos ojos secos
Y hablando de ella
Shakira:
Ay amor me duele tanto
Alejandro Sanz:
Me duele tanto
Shakira:
Que te fueras sin decir a donde
Ay amor, fue una tortura perderte
Coro:
Alejandro Sanz:
Yo se que no he sido un santo
Pero lo puedo arreglar amor
Shakira:
No solo de pan vive el hombre
Y no de excusas vivo yo.
Alejandro Sanz:
Solo de errores se aprende
Y hoy se que es tuyo mi corazón
Shakira:
Mejor te guardas todo eso
A otro perro con ese hueso
Y nos decimos adiós
Shakira:
No puedo pedir que el invierno perdone a un rosal
No puedo pedir a los olmos que entreguen peras
No puedo pedirle lo eterno a un simple mortal
Y andar arrojando a los cerdos miles de perlas
Alejandro Sanz:
Ay amor me duele tanto
Me duele tanto
Que no creas más en mis promesas
Shakira:
Ay amor
Alejandro Sanz:
Es una tortura
Shakira:
Perderte
Coro:
Alejandro Sanz:
Yo se que no he sido un santo
Pero lo puedo arreglar amor
Shakira:
No solo de pan vive el hombre
Y no de excusas vivo yo.
Alejandro Sanz:
Solo de errores se aprende
Y hoy se que es tuyo mi corazón
Shakira:
Mejor te guardas todo eso
A otro perro con ese hueso
Y nos decimos adiós
Alejandro Sanz:
No te bajes, no te bajes
Oye negrita mira, no te rajes
De lunes a viernes tienes mi amor
Déjame el sábado a mi que es mejor
Oye mi negra no me castigues más
Porque allá afuera sin ti no tengo paz
Yo solo soy un hombre arrepentido
Soy como el ave que vuelve a su nido
Coro:
Alejandro Sanz:
Yo se que no he sido un santo
Y es que no estoy hecho de cartón
Shakira:
No solo de pan vive el hombre
Y no de excusas vivo yo.
Alejandro Sanz:
Solo de errores se aprende
Y hoy se que es tuyo mi corazón
Shakira:
Ay ay ay,
Ay ay ay,
Ay, todo lo que he hecho por ti
Fue una tortura perderte
Me duele tanto que sea asi
Sigue llorando perdón
Yo... yo no voy
A llorar hoy por ti


Shakira

Bonito ... fui eu quem tirou!


Chega de Saudade ...

Vai minha tristeza
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz Não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calada assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim...


Vinicius de Moraes

domingo, 9 de dezembro de 2007

Memórias


A Vida

É vão o amor, o ódio, ou o desdém;
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!

Todos somos no mundo <>,
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!

A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...

Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!

de Florbela Espanca

Evasão


Que me quereis, perpétuas saudades?

Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança inda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.

Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.

Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa, porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.

Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.

de Luís de Camões

Another home


Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;

É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;

É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.

Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

de Luís de Camões

terça-feira, 20 de novembro de 2007

Mais longe


Álcool

Que droga foi a que me inoculei?
Ópio de inferno em vez de paraiso? ...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?

Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
E só de mim que ando delirante-
Manhã tão forte que me anoiteceu.

de Mário Sá Carneiro

Bem perto


Faz-me o favor

Faz-me o favor de não dizer absolutamente nada!
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.

É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.

Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada.
Sê Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.

de Mário Cesariny

Numa cidade cheia de gatos e bicicletas


Árvore

Assemelha-te de novo à árvore que amas, a árvore de grandes ramos : silenciosa e atenta, ela deixa-se pender sobre o mar.
de Nietzsche

de Dia


Languidez

Fecho as pálpebras roxas, quase pretas,
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...

E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...

de Florbela Espanca

À noite


Grande

Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!

Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.

de Fernando Pessoa

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

Diferente


Stockholm Syndrome

I won't stand in your way
Let your hatred grow
and she'll scream and she'll shout and she'll cry
and she had a name yes she had a name

And i wont hold you back
let your anger rise
and we'll fly and we'll fall and we'll burn
no one will recall, no one will recall

This is the last time
I'll abandon you And this is
The last time I'll forget you
I wish I could

Look to the stars
Let hope burn in your eyes
And we'll love and we'll hope and we'll die
All to no avail, all to no avail

This is the last time
I'll abandon you And this is
The last time I'll forget you
I wish I could

This is the last time I'll abandon you
And this isThe last time
I'll forget you I wish
I could

I wish I could

Muse

Calmo


Starlight

Far away
This ship has taken me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

Starlight
I will be chasing a starlight
Until the end of my life
I don't know if it's worth it anymore

Hold you in my arms
I just wanted to hold you in my arms

My life
You electrify my life
Let's conspire to re-ignite
All the souls that would die just to feel alive

I'll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away

Our hopes and expectations
lack holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to hold you in my arms

Far away
The ship has taken me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die

I'll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away

Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations

Hold you in my arms
I just wanted to hold you in my arms
I just wanted to hold

Muse

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Local de culto


Severed Garden

wow, Im sick of doubt
live in the light of certain south, cruel bindings
the servants have the power
dogmen and their mean women
pulling poor blankets over our sailors

I'm sick of dour faces staring at me from the tv tower
I want roses in my garden bower, dig?
royal babies, rubies, must now replace aborted strangers in the mud
these mutants blood meal for the plant that's ploughed

they are waiting to take us into the severed garden
you know how pale and wanton, thrillful comes death
in the strange hour
unannounced, unplanned for
like a scary over-friendly guest you've brought to bed
death makes angels of us all and gives us wings where we had shoulders smooth as ravens' claws
no more money, no more fancy dress
this other kingdom seems by far the best
until its other jaw reveals incest
and loose obedience to a vegetable law
I will not go
prefer a feast of friends to the giant family

de Jim Morrison

quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Mais uma


Mais uma

Meus dias vão correndo vagarosos,
Sem prazer e sem dor parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.

É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gozos.

Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...

Porém, do pressentir dá-ma a certeza,
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!

de Antero de Quental

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Cold but pretty


Manias!

O mundo é velha cena ensanguentada,
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.

Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada, --
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.

Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,

Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!

de Cesário Verde

sexta-feira, 2 de novembro de 2007

Demasiado grande para um só dia


Evadido

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim
,Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

de Fernando Pessoa

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

Outro bom dia passado


Saudade

Saudade é um pouco como fome. Só passa quando se come a presença. Mas às vezes a saudade é tão profunda que a presença é pouco: quer-se absorver a outra pessoa toda. Essa vontade de um ser o outro para uma unificação inteira é um dos sentimentos mais urgentes que se tem na vida.
de Clarice Lispector

Num dia de Anos


Sorri

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz

de Charles Chaplin

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

eheheh


Há palavras que nos beijam

Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.

Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.

De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.

(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)

Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.

de Alexandre O'Neill

sexta-feira, 26 de outubro de 2007

Um dos feudos ... Monte de Santa Luzia


A um ausente

Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o acto sem continuação, o acto em si,
o acto que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste


de Carlos Drummont de Andrade

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Que boas recordações!


Está lá a Pátria que nos pariu:

Ó Portugal, se fosses só três sílabas,
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
(...)

Ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
(...)

Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...

E ainda:
País engravatado todo o ano

e a assoar-se à gravata por engano.

de Alexandre O'Neill

quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Místico


Narciso

A lenda de Narciso, surgida provavelmente da superstição grega segundo a qual contemplar a própria imagem prenunciava má sorte, possui um simbolismo que fez dela uma das mais duradouras da mitologia grega. Narciso era um jovem de singular beleza, filho do deus-rio Cefiso e da ninfa Liríope. No dia de seu nascimento, o adivinho Tirésias vaticinou que Narciso teria vida longa desde que jamais contemplasse a própria figura. Indiferente aos sentimentos alheios, Narciso desprezou o amor da ninfa Eco - segundo outras fontes, do jovem Amantis - e seu egoísmo provocou o castigo dos deuses. Ao observar o reflexo de seu rosto nas águas de uma fonte, apaixonou-se pela própria imagem e ficou a contemplá-la até consumir-se. A flor conhecida pelo nome de Narciso nasceu, então, no lugar onde morrera.


Em outra versão da lenda, Narciso contemplava a própria imagem para recordar os traços da irmã gêmea, morta tragicamente. Foi, no entanto, a versão tradicional, reproduzida no essencial por Ovídio em Metamorfoses, que se transmitiu à cultura ocidental por intermédio dos autores renascentistas.

terça-feira, 23 de outubro de 2007

Outra boa lembraça tua ... que bela soneca no carro! PObre DMW


Grande

Para ser grande, sê inteiro: nada

Teu exagera ou exclui.

Sê todo em cada coisa.

Põe quanto és

No mínimo que fazes.

Assim em cada lago a lua toda

Brilha, porque alta vive.

de Fernando Pessoa

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Ancient


Lágrima

Cheia de penas me deito
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto

Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo

Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer

Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria mata

de Amália Rodrigues

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Medieval


Isto

Dizem que finjo ou minto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.

Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.

Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.Sentir?
Sinta quem lê!

de Fernando Pessoa

quinta-feira, 18 de outubro de 2007

Mimo


Morte e Transfiguração

Cinzas, vergões, renúncias, cicatrizes,
Lanceram-nos a esperança, mas dão outra.
Essa em que a dor nos faz criar raízes,
Árvore e fruto duma seiva nova.

Dos abismos da ira levantamos
As vozes, os protestos e as trombetas.
Só nos ouvimos quando nos calamos
E em vez de arautos nos tornamos poetas.

Cantores das coisas que nos doem, magos
Da nossa angústia, frémito das águas
Onde nos debruçamos, onde nós,

Narcisos do que é grande e impossível,
Nos transformamos por amor da voz
Enquanto a imagem nos parece inútil.

de José Carlos Ary dos Santos

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

O outro lado


Vaidade

Sonho que sou a Poetisa eleita,
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!

Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!

Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!

E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...

de Florbela Espanca

terça-feira, 16 de outubro de 2007

Terra do Meio


Deveras interessante

Era uma vez uma dama gentil e senil que tinha um gato siamês. Gato siamês! Gato de raça, de bom-tom, de filiação, de ânimo cristão. Lindo gato, gato terno, amigo, pertencente a uma classe quase extinta de antigos deuses egípcios. Este gato só faltava falar. Manso e inteligente, seu olhar era humano. Mas falar não falava. E sua dona, triste, todo dia passava uma ou duas horas repetindo sílabas e palavras para ele, na esperança de que um dia aquela inteligência que via em seu olhar explodisse em sons compreensivos e claros. Mas, nada! A dama gentil e senil era, naturalmente, incapaz de compreender o fenômeno. Tanto mais que ali mesmo à sua frente, preso a um poleiro de ferro, estava um outro ser, também animal, inferior até ao gato, pois era somente uma pobre ave, mas que falava! Falava mesmo e muito mais do que devia! Um papagaio que falava pelas tripas do Judas. Curiosa natureza, pensava a mulher, que fazia um gato quase humano, sem fala, e um papagaio cretino mas parlapatão. E quanto mais meditava mais tempo gastava com o gato no colo, tentando métodos, repetindo sílabas, redobrando cuidados, para ver se conseguia que seu miado virasse fala. Exatamente no dia 16 de maio de 1958 foi que teve a idéia genial. Quando a idéia iluminou seu cérebro, veio logo acompanhada da crítica, autocrítica: "Mas, como não ocorreu isso antes" perguntou ela para si própria, muito gentil e senil como sempre, mas agora também autopunitiva. "Como não me ocorreu isso antes?" O papagaio viu o brilho da dona o seu (dêle) terrível destino e tentou escapar, mas estava preso. Foi morto, depenado, e cozinhado em menos de uma hora. Pois o raciocínio da mulher era lógico e científico: se desse ao gato o papagaio como alimentação, não era evidente que o gato começaria a falar? Não era? O gato, a princípio, não quis comer o companheiro. Temendo ver fracassado o seu experimento científico, a dama gentil e senil procurou forçá-lo. Não conseguindo que o gato comesse o papagaio, bateu-lhe mesmo - horror! - pela primeira vez. Mas o gato se recusou. Duas horas depois, porém, vencido pela fome, aproximou-se do prato e engoliu o papagaio todo. Imediatamente subiu-lhe uma ânsia do estômago, ele olhou para a dona e, enquanto esta chorava de alegria, começou a gritar (num tom meio currupaco, meio miau-aua-au (mas perfeitamente compreensível): - Madame, foge pelo amor de Deus! Foge, madame, que o prédio vai cair. Corre madame, que o prédio vai cair!A mulher, tremendo de comoção e de alegria, chorando e rindo, pôs-se a gritar por sua vez: - Vejam, vejam, meu gatinho fala! Milagre! Milagre! Fala o meu gatinho! Mas o gato, fugindo ao seu abraço, saltou para a janela e gritou de novo:- Foge, madame, que o prédio vai cair! Madame, foge! - e pulou para a rua. Nesse momento, com um estrondo monstruoso, o prédio inteiro veio abaixo, sepultando a dama gentil e senil em meio aos seus escombros.O gato, escondido melancòlicamente num terreno baldio, ficou vendo o tumulto diante do desastre e comentou apenas, com um gato mais pobre que passava: Veja só que cretina. Passou a vida inteira para fazer eu falar e no momento em que eu falei não me prestou a mínima atenção.
de Millor Fernandes

segunda-feira, 15 de outubro de 2007


A Criação de Ganesha

Há muito tempo, enquanto o deus Shiva guerreava ao lado dos outros deuses, sua consorte, Parvati, estava sózinha em casa. Num certo momento, ela precisava de alguém que protegesse a casa enquanto ela se banhava. Sem encontrar outra opção, ela usou seus poderes para criar um filho, Ganesha. Ela instruiu-o a manter rígida vigilância na casa, não permitindo que ninguém ali entrasse - Ganesha assim o fez. Em pouco tempo, Shiva retornava à sua casa, alegre com a gloriosa vitória que trouxera aos deuses. Só parou quando chegou à entrada de sua casa, onde encontrou Ganesha. Este, seguindo fielmente as palavras de Parvati, não permitiu que o deus entrasse na casa. Shiva, irado, cortou a cabeça do jovem Ganesha. Enquanto isso, Parvati saía do banho e, ao ver a cena, ficou horrorizada. Triste e enraivecida, a deusa explicou a Shiva a situação. Shiva concordou que agira mal e decidiu trazer Ganesha de volta à vida, pondo-lhe a cabeça da primeira criatura viva que encontrasse dormindo voltada para o norte. O deus enviou os seus soldados em busca da criatura, ao que lhe trouxeram um elefante. Assim, o deus Shiva reviveu seu filho, que passou a ter uma cabeça de elefante. Parvati ainda não se contentara com o trato e queria mais. Então, Shiva concedeu a Ganesha a dádiva de que, antes de iniciar qualquer trabalho, as pessoas adorariam seu nome. E é por isso que se deve invocar o nome do deus Ganesha antes de qualquer empreendimento.

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Catarina de Médicis vs Diana de Poitier


A raposa e o corvo

O Corvo apanhou um queijo, fugiu com ele e poisou sobre uma árvore. A Raposa viu-o e desejou comer o seu queijo: e, pondo-se ao pé da árvore, começou a dizer ao Corvo: - Por certo que és formoso e gentil-homem, e poucos pássaros há que te ganhem. Tu és bem disposto e muito galante. Se me quiseres mostrar a tua linda voz, nenhuma ave se comparará contigo. Soberbo o Corvo destes elogios e, desejando agradar-lhe, levanta o pescoço para cantar; porém, abrindo a boca, caiu-lhe o queijo. A Raposa tomou-o e foi-se, ficando o Corvo faminto e raivoso da sua própria ignorância.

in BRAGA, Teófilo. Contos tradicionais do povo português

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Terra da Heidi


Porquê

Tocar do despertador,
Abro os olhos e espreguiço-me
Percebo que tenho de me levantar e dou um grito...
Não!
Fecho os olhos e a realidade cai sobre mim
Abro os olhos lacrimejados e percebo o que aconteceu
É inevitável, tenho de me levantar ...
Não!
Lá me levanto a custo, tudo é intuitivo
Comida para o gato, escolher a roupa,
o duche, o pequeno almoço e sair ...
Não!
O trânsito, o planeamento do dia
As pessoas mal humoradas nos carros que passam,
Chegar ao trabalho que é menos que os sonhos ...
Não!
Comum a todos os momentos do meu dia
É a pergunta que me assola a vida
Porquê?

de Blue

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Mística


Soneto 35

Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;

Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;

Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço

Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.

de William Shakespeare

terça-feira, 9 de outubro de 2007

A minha


Agora

Um gosto de amora
comida com sol. A vida
chama-se: "Agora."

de Blue

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

Última, muito bonita


Coração sem imagens

Deito fora as imagens,
Sem ti para que me servem
as imagens?

Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.

Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.

Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.

Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.

Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.

Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.

E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.

de Raúl de Carvalho

quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Impressionante ...


A Abelha

A abelha que, voando, freme sobre
A colorida flor, e pousa, quase
Sem diferença dela
À vista que não olha,

Não mudou desde Cecrops.
Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto Da espécie de que vive.

Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! —
Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.

de Ricardo Reis

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

Toda ela é música


Pequena folha

Tu eras também uma pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.

de Pablo Neruda

terça-feira, 2 de outubro de 2007

Cidade luz


Desaparecimento

Nesta curva tão terna e lancinante

que vai ser que já é o teu desaparecimento

digo-te adeus

e como um adolescente

tropeço de ternura por ti.

de Alexandre O'Neill

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Uma das bibliotecas grandes


O último Amor

Era o último amor. A casa fria,
os pés molhados no escuro chão.
Era o último amor e não sabia
esconder o rosto em tanta solidão.

Era o último amor. Quem advinha
o sabor pela escuridão?
Quem oferece frutos nessa neve?
Quem rasga com ternura o que foi verão?

Era o último amor, o mais perfeito
fulgor do que viveu sem as palavras.
Era o último amor, perfil desfeito
entre lumes e vozes passadas.

Era o último amor e não sabia
que os pés à terra nua oferecia.

de Luís Filipe Castro Mendes

sexta-feira, 28 de setembro de 2007

Única


Sonho

É um sonho esta vida,
mas um sonho febril de um instante único.
Quando dele se acorda,
vê-se que tudo é só vaidade e fumo...
Oxalá fosse um sonho
bem profundo e bem longo,
um sonho que durasse até á morte!...
Eu sonharia com o meu e teu amor.

de Gustavo Adolfo Bécquer

quinta-feira, 27 de setembro de 2007

Local para sonhar


Um beijo

Foste o beijo melhor da minha vida,
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!

Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento, e rolo-te na boca malferida.

Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?

Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....

de Olavo Bilac

quarta-feira, 26 de setembro de 2007

Uma antiga cidade das luzes


Princípio e Fim

Minh’alma, de sonhar-te, anda perdida.
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!...

E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»

de Florbela Espanca

terça-feira, 25 de setembro de 2007

Inóspito, mas envolvente e belo, um favorito


Viver a valer

Sou um evadido.
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.

Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?

Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.

Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.

de FernandoPessoa

segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Do que mais gostei deste país


Saído de uma prenda que adorei

"Livra-te da paixão e do teu ódio, conhecerás a Liberdade".
Provérbio Japonês

sexta-feira, 21 de setembro de 2007

Um local que me valeu palmadas e deu alegria pelos fotos oferecidas


Poema da flor proibida

Por detrás de cada flor
há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.

Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.

Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,
não de repente(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.

Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.

Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem a olhar
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar.

de António Gedeão

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

Local das mil e uma noites


Amostra sem valor

Eu sei que o meu desespero não interessa a ninguém.
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.

Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.

Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no,
e, contudo, nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.

de António Gedeão

quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Um local antigo




Porque

Porque os outros se mascaram mas tu não
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.

Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.

Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.

de Sophia de Mello Breyner Andersen

terça-feira, 18 de setembro de 2007

Um Local visitado contigo ... Lembranças muito boas!


Saudade

Saudades! Sim... talvez... e porque não?...
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!

Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!

Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!

E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!

de Florbela Espanca

segunda-feira, 17 de setembro de 2007

Mais um local ... Boas Lembranças


Ao desconcerto do Mundo

Os bons vi sempre passar
no mundo graves tormentos;
e, para mais m'espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim
anda o mundo concertado.

de Luís Vaz de Camões