quarta-feira, 26 de dezembro de 2007
La Tortura
Ay payita mía
Guárdate la poesía
Guárdate la alegría pa'ti
Shakira:
No pido que todos los días sean de sol
No pido que todos los viernes sean de fiesta
Tampoco te pido que vuelvas rogando perdón
Si lloras con dos ojos secos
Y hablando de ella
Shakira:
Ay amor me duele tanto
Alejandro Sanz:
Me duele tanto
Shakira:
Que te fueras sin decir a donde
Ay amor, fue una tortura perderte
Coro:
Alejandro Sanz:
Yo se que no he sido un santo
Pero lo puedo arreglar amor
Shakira:
No solo de pan vive el hombre
Y no de excusas vivo yo.
Alejandro Sanz:
Solo de errores se aprende
Y hoy se que es tuyo mi corazón
Shakira:
Mejor te guardas todo eso
A otro perro con ese hueso
Y nos decimos adiós
Shakira:
No puedo pedir que el invierno perdone a un rosal
No puedo pedir a los olmos que entreguen peras
No puedo pedirle lo eterno a un simple mortal
Y andar arrojando a los cerdos miles de perlas
Alejandro Sanz:
Ay amor me duele tanto
Me duele tanto
Que no creas más en mis promesas
Shakira:
Ay amor
Alejandro Sanz:
Es una tortura
Shakira:
Perderte
Coro:
Alejandro Sanz:
Yo se que no he sido un santo
Pero lo puedo arreglar amor
Shakira:
No solo de pan vive el hombre
Y no de excusas vivo yo.
Alejandro Sanz:
Solo de errores se aprende
Y hoy se que es tuyo mi corazón
Shakira:
Mejor te guardas todo eso
A otro perro con ese hueso
Y nos decimos adiós
Alejandro Sanz:
No te bajes, no te bajes
Oye negrita mira, no te rajes
De lunes a viernes tienes mi amor
Déjame el sábado a mi que es mejor
Oye mi negra no me castigues más
Porque allá afuera sin ti no tengo paz
Yo solo soy un hombre arrepentido
Soy como el ave que vuelve a su nido
Coro:
Alejandro Sanz:
Yo se que no he sido un santo
Y es que no estoy hecho de cartón
Shakira:
No solo de pan vive el hombre
Y no de excusas vivo yo.
Alejandro Sanz:
Solo de errores se aprende
Y hoy se que es tuyo mi corazón
Shakira:
Ay ay ay,
Ay ay ay,
Ay, todo lo que he hecho por ti
Fue una tortura perderte
Me duele tanto que sea asi
Sigue llorando perdón
Yo... yo no voy
A llorar hoy por ti
Shakira
Chega de Saudade ...
E diz a ela que sem ela não pode ser
Diz-lhe numa prece
Que ela regresse
Porque não posso mais sofrer
Chega de saudade
A realidade é que sem ela
Não há paz Não há beleza
É só tristeza e a melancolia
Que não sai de mim
Não sai de mim
Não sai
Mas, se ela voltar
Se ela voltar que coisa linda!
Que coisa louca!
Pois há menos peixinhos a nadar no mar
Do que os beijinhos
Que eu darei na sua boca
Dentro dos meus braços, os abraços
Hão de ser milhões de abraços
Apertado assim, colado assim, calada assim,
Abraços e beijinhos e carinhos sem ter fim
Que é pra acabar com esse negócio
De você viver sem mim
Não quero mais esse negócio
De você longe de mim
Vamos deixar esse negócio
De você viver sem mim...
Vinicius de Moraes
domingo, 9 de dezembro de 2007
A Vida
Inútil o desejo e o sentimento...
Lançar um grande amor aos pés de alguém
O mesmo é que lançar flores ao vento!
Todos somos no mundo <
Uma alegria é feita dum tormento,
Um riso é sempre o eco dum lamento,
Sabe-se lá um beijo de onde vem!
A mais nobre ilusão morre... desfaz-se...
Uma saudade morta em nós renasce
Que no mesmo momento é já perdida...
Amar-te a vida inteira eu não podia.
A gente esquece sempre o bem de um dia.
Que queres, meu Amor, se é isto a vida!
de Florbela Espanca
Que me quereis, perpétuas saudades?
Com que esperança inda me enganais?
Que o tempo que se vai não torna mais,
E se torna, não tornam as idades.
Razão é já, ó anos, que vos vades,
Porque estes tão ligeiros que passais,
Nem todos pera um gosto são iguais,
Nem sempre são conformes as vontades.
Aquilo a que já quis é tão mudado,
Que quase é outra cousa, porque os dias
Têm o primeiro gosto já danado.
Esperanças de novas alegrias
Não mas deixa a Fortuna e o Tempo errado,
Que do contentamento são espias.
de Luís de Camões
Amor é fogo que arde sem se ver
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?
de Luís de Camões
terça-feira, 20 de novembro de 2007
Álcool
Ópio de inferno em vez de paraiso? ...
Que sortilégio a mim próprio lancei?
Como é que em dor genial eu me eternizo?
Nem ópio nem morfina. O que me ardeu,
Foi álcool mais raro e penetrante:
E só de mim que ando delirante-
Manhã tão forte que me anoiteceu.
de Mário Sá Carneiro
Faz-me o favor
Supor o que dirá
Tua boca velada
É ouvir-te já.
É ouvir-te melhor
Do que o dirias.
O que és nao vem à flor
Das caras e dos dias.
Tu és melhor -- muito melhor!
Do que tu. Não digas nada.
Sê Alma do corpo nu
Que do espelho se vê.
de Mário Cesariny
Árvore
Languidez
Que poisam sobre duas violetas,
Asas leves cansadas de voar...
E a minha boca tem uns beijos mudos...
E as minhas mãos, uns pálidos veludos,
Traçam gestos de sonho pelo ar...
de Florbela Espanca
Grande
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
de Fernando Pessoa
segunda-feira, 12 de novembro de 2007
Stockholm Syndrome
Let your hatred grow
and she'll scream and she'll shout and she'll cry
and she had a name yes she had a name
And i wont hold you back
let your anger rise
and we'll fly and we'll fall and we'll burn
no one will recall, no one will recall
This is the last time
I'll abandon you And this is
The last time I'll forget you
I wish I could
Look to the stars
Let hope burn in your eyes
And we'll love and we'll hope and we'll die
All to no avail, all to no avail
This is the last time
I'll abandon you And this is
The last time I'll forget you
I wish I could
This is the last time I'll abandon you
And this isThe last time
I'll forget you I wish
I could
I wish I could
Muse
Starlight
This ship has taken me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die
Starlight
I will be chasing a starlight
Until the end of my life
I don't know if it's worth it anymore
Hold you in my arms
I just wanted to hold you in my arms
My life
You electrify my life
Let's conspire to re-ignite
All the souls that would die just to feel alive
I'll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away
Our hopes and expectations
lack holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Hold you in my arms
I just wanted to hold you in my arms
Far away
The ship has taken me far away
Far away from the memories
Of the people who care if I live or die
I'll never let you go
If you promise not to fade away
Never fade away
Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Our hopes and expectations
Black holes and revelations
Hold you in my arms
I just wanted to hold you in my arms
I just wanted to hold
Muse
quinta-feira, 8 de novembro de 2007
Severed Garden
live in the light of certain south, cruel bindings
the servants have the power
dogmen and their mean women
pulling poor blankets over our sailors
I'm sick of dour faces staring at me from the tv tower
I want roses in my garden bower, dig?
royal babies, rubies, must now replace aborted strangers in the mud
these mutants blood meal for the plant that's ploughed
they are waiting to take us into the severed garden
you know how pale and wanton, thrillful comes death
in the strange hour
unannounced, unplanned for
like a scary over-friendly guest you've brought to bed
death makes angels of us all and gives us wings where we had shoulders smooth as ravens' claws
no more money, no more fancy dress
this other kingdom seems by far the best
until its other jaw reveals incest
and loose obedience to a vegetable law
I will not go
prefer a feast of friends to the giant family
de Jim Morrison
quarta-feira, 7 de novembro de 2007
Mais uma
Sem prazer e sem dor parece
Que o foco interior já desfalece
E vacila com raios duvidosos.
É bela a vida e os anos são formosos,
E nunca ao peito amante o amor falece...
Mas, se a beleza aqui nos aparece,
Logo outra lembra de mais puros gozos.
Minha alma, ó Deus! a outros céus aspira:
Se um momento a prendeu mortal beleza,
É pela eterna pátria que suspira...
Porém, do pressentir dá-ma a certeza,
Dá-ma! e sereno, embora a dor me fira,
Eu sempre bendirei esta tristeza!
de Antero de Quental
terça-feira, 6 de novembro de 2007
Manias!
Coberta de remendos, picaresca;
A vida é chula farsa assobiada,
Ou selvagem tragédia romanesca.
Eu sei um bom rapaz, -- hoje uma ossada, --
Que amava certa dama pedantesca,
Perversíssima, esquálida e chagada,
Mas cheia de jactância quixotesca.
Aos domingos a deia já rugosa,
Concedia-lhe o braço, com preguiça,
E o dengue, em atitude receosa,
Na sujeição canina mais submissa,
Levava na tremente mão nervosa,
O livro com que a amante ia ouvir missa!
de Cesário Verde
sexta-feira, 2 de novembro de 2007
Evadido
Logo que nasci
Fecharam-me em mim
,Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
de Fernando Pessoa
quarta-feira, 31 de outubro de 2007
Saudade
Sorri
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios
Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador
Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos
Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
de Charles Chaplin
segunda-feira, 29 de outubro de 2007
Há palavras que nos beijam
Como se tivessem boca,
Palavras de amor, de esperança,
De imenso amor, de esperança louca.
Palavras nuas que beijas
Quando a noite perde o rosto,
Palavras que se recusam
Aos muros do teu desgosto.
De repente coloridas
Entre palavras sem cor,
Esperadas, inesperadas
Como a poesia ou o amor.
(O nome de quem se ama
Letra a letra revelado
No mármore distraído,
No papel abandonado)
Palavras que nos transportam
Aonde a noite é mais forte,
Ao silêncio dos amantes
Abraçados contra a morte.
de Alexandre O'Neill
sexta-feira, 26 de outubro de 2007
A um ausente
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.
Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave
do que o acto sem continuação, o acto em si,
o acto que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?
Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.
Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste
de Carlos Drummont de Andrade
quinta-feira, 25 de outubro de 2007
Está lá a Pátria que nos pariu:
linda vista para o mar,
Minho verde, Algarve de cal,
jerico rapando o espinhaço da terra,
(...)
Ó Portugal, se fosses só três sílabas
de plástico, que era mais barato!
(...)
Portugal: questão que eu tenho comigo mesmo,
golpe até ao osso, fome sem entretém,
perdigueiro marrado e sem narizes, sem perdizes,
rocim engraxado,
feira cabisbaixa,
meu remorso,
meu remorso de todos nós...
E ainda:
País engravatado todo o ano
e a assoar-se à gravata por engano.
de Alexandre O'Neill
quarta-feira, 24 de outubro de 2007
Narciso
Em outra versão da lenda, Narciso contemplava a própria imagem para recordar os traços da irmã gêmea, morta tragicamente. Foi, no entanto, a versão tradicional, reproduzida no essencial por Ovídio em Metamorfoses, que se transmitiu à cultura ocidental por intermédio dos autores renascentistas.
terça-feira, 23 de outubro de 2007
Grande
Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.
de Fernando Pessoasegunda-feira, 22 de outubro de 2007
Lágrima
E com mais penas me levanto
Já me ficou no meu peito
O jeito de te querer tanto
Tenho por meu desespero
Dentro de mim o castigo
Eu digo que não te quero
E de noite sonho contigo
Se considero que um dia hei-de morrer
No desespero que tenho de te não ver
Estendo o meu xaile no chão
E deixo-me adormecer
Se eu soubesse que morrendo
Tu me havias de chorar
Por uma lágrima tua
Que alegria me deixaria mata
de Amália Rodrigues
sexta-feira, 19 de outubro de 2007
Isto
Tudo que escrevo. Não.
Eu simplesmente sinto
Com a imaginação.
Não uso o coração.
Tudo o que sonho ou passo,
O que me falha ou finda,
É como que um terraço
Sobre outra coisa ainda.
Essa coisa é que é linda.
Por isso escrevo em meio
Do que não está de pé,
Livre do meu enleio,
Sério do que não é.Sentir?
Sinta quem lê!
de Fernando Pessoa
quinta-feira, 18 de outubro de 2007
Morte e Transfiguração
Lanceram-nos a esperança, mas dão outra.
Essa em que a dor nos faz criar raízes,
Árvore e fruto duma seiva nova.
Dos abismos da ira levantamos
As vozes, os protestos e as trombetas.
Só nos ouvimos quando nos calamos
E em vez de arautos nos tornamos poetas.
Cantores das coisas que nos doem, magos
Da nossa angústia, frémito das águas
Onde nos debruçamos, onde nós,
Narcisos do que é grande e impossível,
Nos transformamos por amor da voz
Enquanto a imagem nos parece inútil.
de José Carlos Ary dos Santos
quarta-feira, 17 de outubro de 2007
Vaidade
Aquela que diz tudo e tudo sabe,
Que tem a inspiração pura e perfeita,
Que reúne num verso a imensidade!
Sonho que um verso meu tem claridade
Para encher o mundo! E que deleita
Mesmo aqueles que morrem de saudade!
Mesmo os de alma profunda e insatisfeita!
Sonho que sou Alguém cá neste mundo...
Aquela de saber vasto e profundo,
Aos pés de quem a Terra anda curvada!
E quando mais no céu eu vou sonhando,
E quando mais no alto ando voando,
Acordo do meu sonho... E não sou nada!...
de Florbela Espanca
terça-feira, 16 de outubro de 2007
Deveras interessante
segunda-feira, 15 de outubro de 2007
A Criação de Ganesha
sexta-feira, 12 de outubro de 2007
A raposa e o corvo
in BRAGA, Teófilo. Contos tradicionais do povo português
quinta-feira, 11 de outubro de 2007
Porquê
Abro os olhos e espreguiço-me
Percebo que tenho de me levantar e dou um grito...
Não!
Fecho os olhos e a realidade cai sobre mim
Abro os olhos lacrimejados e percebo o que aconteceu
É inevitável, tenho de me levantar ...
Não!
Lá me levanto a custo, tudo é intuitivo
Comida para o gato, escolher a roupa,
o duche, o pequeno almoço e sair ...
Não!
O trânsito, o planeamento do dia
As pessoas mal humoradas nos carros que passam,
Chegar ao trabalho que é menos que os sonhos ...
Não!
Comum a todos os momentos do meu dia
É a pergunta que me assola a vida
Porquê?
de Blue
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Soneto 35
Não chores mais o erro cometido;
Na fonte, há lodo; a rosa tem espinho;
O sol no eclipse é sol obscurecido;
Na flor também o inseto faz seu ninho;
Erram todos, eu mesmo errei já tanto,
Que te sobram razões de compensar
Com essas faltas minhas tudo quanto
Não terás tu somente a resgatar;
Os sentidos traíram-te, e meu senso
De parte adversa é mais teu defensor,
Se contra mim te excuso, e me convenço
Na batalha do ódio com o amor:
Vítima e cúmplice do criminoso,
Dou-me ao ladrão amado e amoroso.
de William Shakespeare
terça-feira, 9 de outubro de 2007
segunda-feira, 8 de outubro de 2007
Coração sem imagens
Sem ti para que me servem
as imagens?
Preciso habituar-me
a substituir-te
pelo vento,
que está em toda a parte
e cuja direcção
é igualmente passageira
e verídica.
Preciso habituar-me ao eco dos teus passos
numa casa deserta,
ao trémulo vigor de todos os teus gestos
invisíveis,
à canção que tu cantas e que mais ninguém ouve
a não ser eu.
Serei feliz sem as imagens.
As imagens não dão
felicidade a ninguém.
Era mais difícil perder-te,
e, no entanto, perdi-te.
Era mais difícil inventar-te,
e eu te inventei.
Posso passar sem as imagens
assim como posso
passar sem ti.
E hei-de ser feliz ainda que
isso não seja ser feliz.
de Raúl de Carvalho
quinta-feira, 4 de outubro de 2007
A Abelha
A colorida flor, e pousa, quase
Sem diferença dela
À vista que não olha,
Não mudou desde Cecrops.
Só quem vive
Uma vida com ser que se conhece
Envelhece, distinto Da espécie de que vive.
Ela é a mesma que outra que não ela.
Só nós — ó tempo, ó alma, ó vida, ó morte! —
Mortalmente compramos
Ter mais vida que a vida.
de Ricardo Reis
quarta-feira, 3 de outubro de 2007
Pequena folha
que tremia no meu peito.
O vento da vida pôs-te ali.
A princípio não te vi: não soube
que ias comigo,
até que as tuas raízes
atravessaram o meu peito,
se uniram aos fios do meu sangue,
falaram pela minha boca,
floresceram comigo.
de Pablo Neruda
terça-feira, 2 de outubro de 2007
Desaparecimento
Nesta curva tão terna e lancinante
que vai ser que já é o teu desaparecimento
digo-te adeus
e como um adolescente
tropeço de ternura por ti.
de Alexandre O'Neill
segunda-feira, 1 de outubro de 2007
O último Amor
os pés molhados no escuro chão.
Era o último amor e não sabia
esconder o rosto em tanta solidão.
Era o último amor. Quem advinha
o sabor pela escuridão?
Quem oferece frutos nessa neve?
Quem rasga com ternura o que foi verão?
Era o último amor, o mais perfeito
fulgor do que viveu sem as palavras.
Era o último amor, perfil desfeito
entre lumes e vozes passadas.
Era o último amor e não sabia
que os pés à terra nua oferecia.
de Luís Filipe Castro Mendes
sexta-feira, 28 de setembro de 2007
Sonho
mas um sonho febril de um instante único.
Quando dele se acorda,
vê-se que tudo é só vaidade e fumo...
Oxalá fosse um sonho
bem profundo e bem longo,
um sonho que durasse até á morte!...
Eu sonharia com o meu e teu amor.
de Gustavo Adolfo Bécquer
quinta-feira, 27 de setembro de 2007
Um beijo
ou talvez o pior...Glória e tormento,
contigo à luz subi do firmamento,
contigo fui pela infernal descida!
Morreste, e o meu desejo não te olvida:
queimas-me o sangue, enches-me o pensamento,
e do teu gosto amargo me alimento, e rolo-te na boca malferida.
Beijo extremo, meu prêmio e meu castigo,
batismo e extrema-unção, naquele instante
por que, feliz, eu não morri contigo?
Sinto-me o ardor, e o crepitar te escuto,
beijo divino! e anseio delirante,
na perpétua saudade de um minuto....
de Olavo Bilac
quarta-feira, 26 de setembro de 2007
Princípio e Fim
Meus olhos andam cegos de te ver!
Não és sequer razão do meu viver
Pois que tu és já toda a minha vida!...
E, olhos postos em ti, digo de rastros:
«Ah! Podem voar mundos, morrer astros,
Que tu és como Deus: Princípio e Fim!...»
de Florbela Espanca
terça-feira, 25 de setembro de 2007
Viver a valer
Logo que nasci
Fecharam-me em mim,
Ah, mas eu fugi.
Se a gente se cansa
Do mesmo lugar,
Do mesmo ser
Por que não se cansar?
Minha alma procura-me
Mas eu ando a monte,
Oxalá que ela
Nunca me encontre.
Ser um é cadeia,
Ser eu é não ser.
Viverei fugindo
Mas vivo a valer.
de FernandoPessoa
segunda-feira, 24 de setembro de 2007
Saído de uma prenda que adorei
Provérbio Japonês
sexta-feira, 21 de setembro de 2007
Poema da flor proibida
há um homem de chapéu de coco e sobrolho carregado.
Podia estar à frente ou estar ao lado,
mas não, está colocado
exactamente por detrás da flor.
Também não está escondido nem dissimulado,
está dignamente especado
por detrás da flor.
Abro as narinas para respirar
o perfume da flor,
não de repente(é claro) mas devagar,
a pouco e pouco,
com os olhos postos no chapéu de coco.
Ele ama-me. Defende-me com os seus carinhos,
protege-me com o seu amor.
Ele sabe que a flor pode ter espinhos,
ou tem mesmo,
ou já teve,
ou pode vir a ter,
e fica triste se me vê sofrer.
Transmito um pensamento à flor
sem mover a cabeça e sem a olhar
De repente,
como um cão cínico arreganho o dente
e engulo-a sem mastigar.
de António Gedeão
quinta-feira, 20 de setembro de 2007
Amostra sem valor
Cada um tem o seu, pessoal e intransmissível:
com ele se entretém
e se julga intangível.
Eu sei que a Humanidade é mais gente do que eu,
sei que o Mundo é maior do que o bairro onde habito,
que o respirar de um só, mesmo que seja o meu,
não pesa num total que tende para infinito.
Eu sei que as dimensões impiedosos da Vida
ignoram todo o homem, dissolvem-no,
e, contudo, nesta insignificância, gratuita e desvalida,
Universo sou eu, com nebulosas e tudo.
de António Gedeão
quarta-feira, 19 de setembro de 2007
Porque
Porque os outros usam a virtude
Para comprar o que não tem perdão.
Porque os outros têm medo mas tu não.
Porque os outros são os túmulos caiados
Onde germina calada a podridão.
Porque os outros se calam mas tu não.
Porque os outros se compram e se vendem
E os seus gestos dão sempre dividendo.
Porque os outros são hábeis mas tu não.
Porque os outros vão à sombra dos abrigos
E tu vais de mãos dadas com os perigos.
Porque os outros calculam mas tu não.
de Sophia de Mello Breyner Andersen
terça-feira, 18 de setembro de 2007
Saudade
Se o nosso sonho foi tão alto e forte
Que bem pensara vê-lo até à morte
Deslumbrar-me de luz o coração!
Esquecer! Para quê?... Ah! como é vão!
Que tudo isso, Amor, nos não importe.
Se ele deixou beleza que conforte
Deve-nos ser sagrado como pão!
Quantas vezes, Amor, já te esqueci,
Para mais doidamente me lembrar,
Mais doidamente me lembrar de ti!
E quem dera que fosse sempre assim:
Quanto menos quisesse recordar
Mais a saudade andasse presa a mim!
de Florbela Espanca
segunda-feira, 17 de setembro de 2007
Ao desconcerto do Mundo
no mundo graves tormentos;
e, para mais m'espantar,
os maus vi sempre nadar
em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
o bem tão mal ordenado,
fui mau, mas fui castigado.
Assim que, só para mim
anda o mundo concertado.
de Luís Vaz de Camões