segunda-feira, 10 de março de 2008

O Caminho estreito

Também esta cabana de colmo
se há-de transformar
em casa de bonecas

Que glória
as folhas verdes as folhas novas
sob a luz do sol

Nem o picanço
tocará esta ermida
suspensa entre as árvores de verão

Ficou plantado o arrozal
quando me despedi
do salgueiro

O berço da poesia
os cantos dos plantadores de arroz
no longínquo norte

Mãos que hoje plantam arroz
outrora ágeis desenhos
imprimiam como uma pedra

Das cerejeiras em flor
ao pinheiro de dois troncos:
três meses

Criadoras de bichos da seda
as suas roupas
aroma de antiga inocência

Na frescura
me estendo
como no meu leito

Quietude:
as cigarras escutam
o canto das rochas

O cálido dia:
o rio Mogami
deita-o ao mar

Cabanas dos pescadores:
apanhando a frescura do entardecer
estendidos sobre as portas

O ninhos de «misagos»
sobre uma rocha no mar:
jurariam as ondas não lhes tocar

O Sétimo Mês
a noite do sexto dia
não me parece a de sempre

Penetro no aroma do arrozal
à minha direita
a cólera do mar

O sol arde
sem compaixão
Mas o vento é de Outono

Que nome delicado
O vento entre os pinheiros
os trevos os juncos

Se hei-de morrer no caminho
que seja
entre os campos de trevo

Hoje o orvalho
apagará o teu nome
do meu chapéu

Toda a noite
escutei
o vento de Outono na montanha


de Matsuo Bashô

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