Desperta a noite;
o orvalho enche a manhã.
Um cheiro a saudade.
Hera pelo muro
rastejando palmo a palmo —
o verde e o viço.
Ao abrir do sol,
se espreguiça o amarelo
pelas maravilhas.
A água dormente:
no lago chapinha a lua,
embalando peixes.
Do reino do sol,
a grande flor amarela,
trouxe a escravidão.
Vem a solidão
comigo pelo caminho.
Já seremos dois.
Esta mesma nuvem,
que voa branca no céu
poisa negra em terra.
Luz pela janela
onde a noite se consome
a brilhar o tempo.
O outono vem
nas aves que, ao partirem,
trouxeram o frio.
Um ninho vazio
de cegonhas que chocaram
sua própria ausência.
Não se vê o rio
que só pelos sonhos corre
debaixo do leito.
As sombras se alongam
pelo caminho da tarde:
vou à minha frente.
Olham as estrelas
plo rosto negro da noite.
Nunca estamos sós.
A manhã que acorda
espreguiça a luz recente
na terra que dorme.
O gato e o sol
sentados no peitoril —
ronronam a par.
Na noite profunda
bate o silêncio estrelado.
Quantas badaladas?
O poente e a papoila
pintaram-se de vermelho:
o sangue e o riso.
As sombras da tarde
já desenham sobre o chão
a outra cidade.
Na noite do campo,
os pirilampos acendem
os negros caminhos.
Chove sem parar.
O inverno trouxe o frio
ao calor da casa.
O verão lateja
nas casas brancas ao sol:
coração de agosto.
Na manhã tranquila,
a vela branca no mar
pontilha o azul.
No fim do verão,
luz e folhas amarelas
a cair do sol.
Imersa no verde,
o desejo me faz folha,
ao sabor a brisa.
de Luísa Freire
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